Textos, apenas textos, literários e poéticos, históricos e filosóficos, dramáticos e humorísticos; narrativos, descritivos ou dissertativos; de autores de todos os cantos do mundo...
terça-feira, 11 de janeiro de 2011
CRIANÇA, de Dalton Trevisan
— Tua professora ligou. De castigo, você. Beijando na boca os meninos. Que feio, meu filho. Não é assim que se faz.
— ...
— Menino beija menina.
— Você é gozada, cara.
— ...
— Pensa que elas deixam?
oo0oo
Ele sai do banheiro, a toalha na cintura.
— Pai, deixa eu ver o teu rabo.
É a tipinha deslumbrada no baile da debutante de três anos.
— Rabo, filha? Ah, sei. O bumbum do pai?
— Seu bobo.
— ...
— Esse pendurado aí na frente.
oo0oo
O pai telefona para casa:
— Alô?
— ...
Reconhece o silêncio da tipinha. Você liga? Quem fala é você.
— Alô, fofinha.
Nem um som. Criança não é para ser chamada fofinha. Cinco anos, já viu.
— Oi, filha. Sabe que eu te amo?
— Eu também.
"Puxa, ela nunca disse que me amava".
— Também o quê?
— Eu também amo eu.
Textos extraídos do livreto "Crianças (seleção)", editado pelo próprio autor em Curitiba (PR), 2001, págs. 5, 15 e 31.
(Ilustração: João Ruas – children of Venus)
Nenhum comentário:
Postar um comentário