quarta-feira, 27 de outubro de 2010

DE CARA LAVADA, de Martha Medeiros






hoje me desfiz dos meus bens

vendi o sofá cujo tecido desenhei

e a mesa de jantar onde fizemos planos

o quadro que fica atrás do bar



rifei junto com algumas quinquilharias

da época em que nos juntamos

a tevê e o aparelho de som

foram adquiridos pela vizinha

testemunha do quanto erramos




a cama doei para um asilo

sem olhar pra trás e lembrar

do que ali inventamos

aquele cinzeiro de cobre

foi de brinde com os cristais




e as plantas que não regamos




coube tudo num caminhão de mudança

até a dor que não soubemos curar



mas que um dia vamos





(Poesia Reunida)





(Ilustração: Odilon Redon – silêncio)



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