Textos, apenas textos, literários e poéticos, históricos e filosóficos, dramáticos e humorísticos; narrativos, descritivos ou dissertativos; de autores de todos os cantos do mundo...
quinta-feira, 5 de novembro de 2009
FALAÇÃO, de Oswald de Andrade
O Cabralismo. A civilização dos
donatários. A Querência e a Exportação.
O Carnaval. O Sertão e a Favela.
Pau-Brasil. Bárbaro e nosso.
A formação étnica rica. A riqueza vegetal.
O minério. A cozinha. O vatapá, o ouro e
a dança.
Toda a história da Penetração e a história
comercial da América. Pau-Brasil.
Conta a fatalidade do primeiro branco
aportado e dominando diplomaticamente
as selvas selvagens. Citando Virgílio para
tupiniquins. O bacharel.
País de dores anônimas. De doutores
anônimos. Sociedade de náufragos
eruditos.
Donde a nunca exportação de poesia. A
poesia emaranhada na cultura. Nos cipós
das metrificações.
Século XX. Um estouro nos
aprendimentos. Os homens que sabiam
tudo se deformaram como babéis de
borracha. Rebentaram de
enciclopedismo.
A poesia para os poetas. Alegria da
ignorância que descobre. Pedr'Álvares.
Uma sugestão de Blaise Cendrars: —
Tendes as locomotivas cheias, ides partir.
Um negro gira a manivela do desvio
rotativo em que estais. O menor descuido
vos fará partir na direção oposta ao vosso
destino.
Contra o gabinetismo, a palmilhação dos
climas.
A língua sem arcaísmos. Sem erudição.
Natural e neológica. A contribuição
milionária de todos os erros.
Passara-se do naturalismo à pirogravura
doméstica e à kodak excursionista.
Todas as meninas prendadas. Virtuoses
de piano de manivela.
As procissões saíram do bojo das fábricas.
Foi preciso desmanchar. A deformação
através do impressionismo e do símbolo.
O lirismo em folha. A apresentação dos
materiais.
A coincidência da primeira construção
brasileira no movimento de reconstrução
geral. Poesia Pau-Brasil.
Contra a argúcia naturalista, a síntese.
Contra a cópia, a invenção e a surpresa.
Uma perspectiva de outra ordem que a
visual. O correspondente ao milagre físico
em arte. Estrelas fechadas nos negativos
fotográficos.
E a sábia preguiça solar. A reza. A
energia silenciosa. A hospitalidade.
Bárbaros, pitorescos e crédulos.
Pau-Brasil. A floresta e a escola. A
cozinha, o minério e a dança. A
vegetação. Pau-Brasil.
(Poesias Reunidas)
(Ilustração: Adriana Varejão)
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