domingo, 20 de setembro de 2009

VIOLINO, de Marcel Proust






Há no violino – quando não se vê o instrumento e não se pode ligar o que se ouve à sua imagem, coisa que modifica a sonoridade – acentos que lhe são tão comuns com certas vozes de contralto, que se tem a ilusão de que uma cantora veio juntar-se ao concerto. Erguemos os olhos e só vemos as caixas dos violinos, preciosas como estojos chineses, mas, por um momento, ainda nos iludimos com o enganoso apelo da sereia; às vezes também se julga ouvir um gênio cativo que se debate no fundo da sábia caixa, enfeitiçada e fremente, como um diabo numa pia d’água benta; ou então é no ar que o sentimos, como um ser sobrenatural e puro que passasse desenrolando a sua invisível mensagem.




(Em Busca do Tempo Perdido – No Caminho de Swan – tradução de Mário Quintana)



(Ilustração: Balthus - la leçon de guitar)



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