domingo, 23 de abril de 2017

OLHAR, de Glauco Mattoso






Eu sei que atrás do seu olhar havia

um outro olhar como uma chama escrava:

Sob o olhar de Raquel o olhar de Lia

no pórtico das órbitas velava.



Quando às vezes Raquel o olhar cravava

em alguém ou a alguém Raquel seguia

eram os olhos da irmã o que se via,

era o olhar da pastora que ali estava.



Debruça-se o pastor no olhar do filho.

Que é que via nos olhos que fitava?

Nos olhos bem-amados que é que via?



Por certo de Raquel o estranho brilho.

Mas atrás desse brilho bruxuleava

o olhar de Lia, Lia, sempre Lia.





(Ilustração: Ginette Beaulieu)




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