segunda-feira, 10 de outubro de 2016

AUTO DE FÉ, de Manuela Amaral







Não me arrependo dos amores que tive

dos corpos de mulher por quem passei

a todos fui fiel

a todos eu amei

Não me arrependo dos dias e das noites

em que o meu corpo herói ganhou batalhas

A um palmo do umbigo eu fui primeira

a divina

a deusa

a verdadeira mulher - sem rival

Amei tantas mulheres de quem nem sei o nome

eu só me lembro apenas

da abraços

de pernas

de beijos

e orgasmos

E no amor que dei

e no amor que tive

eu fui toda mulher - fui vertical.

Eu fui mulher em espanto

fui mulher em espasmo

fui o canto proibido e solitário

Só tenho um itinerário Amor-Mulher.





(Ilustração: Gianni Strino)




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