sábado, 15 de agosto de 2015

POBRE AMOR, de Aluísio de Azevedo





Calcula, minha amiga, que tortura!
Amo-te muito e muito, e, todavia,
Preferira morrer a ver-te um dia
Merecer o labéu de esposa impura!

Que te não enterneça esta loucura,
Que te não mova nunca esta agonia,
Que eu muito sofra porque és casta e pura,
Que, se o não foras, quanto eu sofreria!

Ah! Quanto eu sofreria se alegrasses
Com teus beijos de amor, meus lábios tristes,
Com teus beijos de amor, as minhas faces!

Persiste na moral em que persistes.
Ah! Quanto eu sofreria se pecasses,
Mas quanto sofro mais porque resistes!




(Ilustração: Omar Ortiz - deidad femenina - 2010)


Um comentário:

  1. Me lembrei da querida poetisa e suicida, Florbela Espanca. Adorei o extravasar dos dissabores com as delícias gozosas. Bravo! Qualidade ímpar desse blogue.

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